Segundo algumas informações reveladas este ano, o número de jogadoras mulheres no Brasil vem crescendo pelo terceiro ano consecutivo e representa atualmente 58,9% sobre o total de gamers no nosso país. Mas, apesar de estarem recebendo um espaço muito maior do que era a alguns anos atrás sabemos que nem tudo são flores e que ainda existe muito preconceito por parte de algumas pessoas.
Pensando nisso nos resolvemos entrevistar algumas das incríveis jogadoras da Comunidade Gamer Feminina para que elas possam contar um pouco sobre como tem sido ver todo esse crescente reconhecimento que elas estão recebendo e também para que outras jogadoras por todo o Brasil possam conhecer e fazer parte desse mundo incrível dos games que todos nos amamos.
Veja a seguir a nossa entrevista onde é possivel ver os diferentes ‘Pontos de Vista’ das meninas que fazem parte desse grupo que só tem crescido a cada dia.
A Comunidade Gamer Feminina esteve presente durante a Brasil Game Show 2018 e participaram até mesmo de uma entrevista em uma das transmissões da Xbox Brasil, isso fez com que muitas jogadoras que ainda não conheciam o seu trabalho pudessem não somente ficar entusiasmadas mas também fazer parte. Como é ver este tipo de reconhecimento crescendo cada vez mais?
Vanessa Maia, 20 anos, Estudante
“É muito gratificante. Pois, depois da BGS muitas meninas nos encontraram, agradeceram por existirmos e isso só reforça que estamos no caminho certo.”
Thainá do Nascimento {Dueladythay}, 23 anos, Universitária
“É surreal ver como tudo está acontecendo em relação ao reconhecimento de nossa Comunidade. Estamos felizes e realizadas por conquistar esse espaço depois de tanta luta. A Comunidade vem pra acolher, e informar as mulheres e passar a mensagem que também podemos jogar e ser inclusas nesse meio. Que o respeito precisa ser igualitário e que a figura feminina tem que ser encarada como algo comum. Estamos aqui pra trazer essa força. Participar da BGS foi de grande aprendizado, pois foi ali que tivemos a confirmação do quão grande nosso projeto se tornou, e como o nosso nome está conhecido por ai. E somos gratas a todos que estão nos ajudando, e sou grata a todas as administradoras que convidei para formar a equipe de administração, e hoje tocamos esse projeto tão importante e maravilhoso.”
Mélony Schonfeldt, 26 anos, Designer de Interiores
“Ver esse tipo de reconhecimento nos conforta e nos dá mais vontade de continuarmos nessa caminhada, e assim ajudar mais meninas no mundo gamer.”
Nina Parreiras, 39 anos, Diretora de Arte e Social Media
“Até o começo desde ano ninguém sabia que existíamos. Éramos um grupo restrito no Facebook e um no WhatsApp e em Fevereiro decidimos nos tornar “públicas” com página no Facebook e perfil no Instagram. Queríamos trazer mais garotas para o grupo. A BGS foi digamos, a cereja do bolo para nós. Recebemos tanto carinho e apoio da comunidade, nunca imaginamos que seríamos tão bem recebidas. Percebemos que realmente essa é a nossa “missão”: “convocar” garotas para jogar, dar voz a elas, dar coragem, força a elas, num ambiente onde elas se sintam à vontade para jogar o que quiserem, como quiserem, com quem quiserem. No evento nós conhecemos pessoas que éramos fãs, pessoas que admirávamos e hoje, eles se dizem nossos admiradores, é surreal. Queremos apenas agregar à comunidade. Tem sido tudo muito gratificante e especial.”
Com o passar dos anos foi possível ver diversos jogos que começaram a incluir personagens femininas em jogos que antes não era possível e esse tipo de liberdade de escolha para as jogadoras é algo que se mostra muito interessante, a exemplo de games mais recentes como Assassin’s Creed: Odyssey que pela primeira vez oferece a possibilidade de se escolher entre um homem ou uma mulher para viver a sua própria aventura. Como é ver esse tipo de liberdade que antes não existia em um jogo como este?
Vanessa Maia, 20 anos, Estudante
“Vanessa Maia, 20 anos, Estudante – É muito legal! Pois sempre quisermos isso, lutamos por isso e ver todos esses jogos nos incluindo é incrível.”
Thainá do Nascimento {Dueladythay}, 23 anos, Universitária
“Acho que isso não deveria ser “liberdade”, deveria ser algo comum. Do mesmo jeito que existem personagens masculinos em um jogo de corrida, então deveria ter um personagem feminino também… pois a comunidade é composta por ambos os sexos. Eu acho totalmente necessário ter essa inclusão.”
Mélony Schonfeldt, 26 anos, Designer de Interiores
“Esse tipo de liberdade é muito gratificante, não consigo expressar em palavras o sentimento que tenho por isso.”
Nina Parreiras, 39 anos, Diretora de Arte e Social Media
“É muito importante nos sentir representadas dentro de um game. Anteriormente a mulher era apenas a princesa indefesa que estava presa na torre a ser resgatada pelo herói musculoso, hoje, somos a heroína dona da própria história. Escrevemos nossa história! É a mesma representatividade “besta” de ver uma mulher piloto em Forza, sem que ela seja uma mulher objeto num shorts curto que está narrando o jogo de corrida. Essa representatividade faz com que a mulher se sinta mais confortável em jogar outros jogos, em viver novas aventuras, em se imaginar na pele de determinada heroína. Todas amam e querem ser Lara Croft, mas porque não Kassandra?”
Nós últimos 3 anos aqui no Brasil a quantidade de jogadoras femininas só tem aumentado e hoje é superior a quantidade de jogadores masculinos aqui no nosso país. Como você vê este aumento do publico feminino que se interessa cada vez mais pelo mundo dos games? você acredita que isso pode estar de alguma forma conectado com o aumento da representação de mais personagens femininas nos jogos?
Vanessa Maia, 20 anos, Estudante
“Acho que sim, existe uma relação. Mas acho também que agora muitas tem coragem de usar um nome feminino como gamertag.”
Thainá do Nascimento {Dueladythay}, 23 anos, Universitária
“Acredito que sempre teve um grande público feminino interessado em games, porém, até então, a mídia nunca havia se atentado a esse fato. Em minha opinião, isso não esta ligado a representação de personagens femininas nos jogos, mas sim, nas oportunidades e força que a mídia está dando para o público feminino. Hoje mulheres participam de programas gamers como apresentadoras, mulheres transmitem, escrevem, e antes, você só via homens fazendo esse papel e a mídia dando apoio apenas para eles. Hoje, a mulher tem mais espaço, e isso dá força para que outras mulheres apareçam e adotam seu nome feminino e foto feminina em seus perfis sem medo e receio.”
Mélony Schonfeldt, 26 anos, Designer de Interiores
“Não acredito que esteja conectado com o aumento de representação de mais personagens femininas nos jogos, mas sim porque estão achando amigas para jogar, que já passaram pela mesma dificuldade de jogar com homens no modo online.”
Nina Parreiras, 39 anos, Diretora de Arte e Social Media
“Não sei se o aumento do número de jogadoras está ligado à representação dos personagens nos jogos. Creio que seja mesmo uma questão de coragem de aparecer, de dizer “nós estamos aqui sim e não jogamos só Candy Crush não” [risos]. Estamos em um momento em que o Feminismo no geral tem dado força às mulheres e isso influenciou até mesmo no mundo dos games. Elas tem tido coragem de se expor, de abrir o microfone, de colocar um nick feminino, de trocar a foto do perfil e por ai vai. Acho que a tendência é só aumentar.”
Sabemos que a Comunidade Gamer Feminina é um lugar excelente para que qualquer jogadora possa fazer parte e encontrar outras gamers para não somente jogar em grupo mas também para se sentir mais a vontade em compartilhar experiências sobre os jogos. Mas apesar de tudo muitas jogadoras ainda não conhecem a comunidade e já passaram por algum tipo de preconceito enquanto se divertia em algum jogo. Já houve algum momento em que você enfrentou este tipo de situação? ou como você aconselharia uma jogadora que poderia estar passando por isso neste momento?
Vanessa Maia, 20 anos, Estudante
“Nunca passei por algo tão “forte”, porque antes do grupo sempre joguei sozinha e com o microfone “mutado”. Mas peço para as meninas que estão passando por um momento desse que não se intimidem, que denunciem e que se lembrem que elas não estão sozinhas e não precisam passar por isso sozinhas. “
Thainá do Nascimento {Dueladythay}, 23 anos, Universitária
“Sim, na maioria das vezes foram em jogos do tipo FPS, em que matei o jogador e ele mandou mensagem no chat xingando absurdos… A atitude que tive, e recomendo a qualquer garota que passa pela mesma situação, é denunciar e tentar não revidar. Denunciar de todas as formas que aquela situação se enquadra. E seguir em frente sem desistir de jogar.”
Mélony Schonfeldt, 26 anos, Designer de Interiores
“Falaria pra essa menina denunciar qualquer jogador que fale algo que não deva, e não deixar que isso que foi falado afete em alguma coisa em respeito a ela, e que não está sozinha.”
Nina Parreiras, 39 anos, Diretora de Arte e Social Media
“Pessoalmente eu nunca enfrentei grandes problemas, porque eu sempre joguei offline, além de minha gamertag ser completamente neutra. Entrei para o mundo multiplayer apenas no ano passado e confesso que minha reputação [ainda] não gerou ódio alheio [risos]. Mas no grupo lidamos com muitas garotas que sofreram e sofrem constantemente assédios e tentamos aconselha-las a não abandonarem os jogos, não importa o nível das ofensas que sofrerem. Jogos são para todos. Afinal, qual é o problema de uma garota jogar?”
Agradecemos imensamente a todas as entrevistadas da incrível Comunidade Gamer Feminina e por todo o apoio que vocês proporcionaram, vocês merecem todo o nosso reconhecimento!
Para todas as jogadoras que quiserem fazer parte desta incrível comunidade, vocês podem acessar aqui para entrar no grupo exclusivo para meninas gamers no facebook.